quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ou a Vida ou a Obra

Findando a leitura de "Deus, Uma biografia", deparado-me com uma citação de Jack Miles, autor da obra em relação ao poeta e escritor W.B. Yeats:
" O intelecto do homem é forçado a escolher; a perfeição da vida ou a perfeição da obra."
Não conheço a obra de Yeats mas esta frase coçou a minha mente. Parei e deixei que esta citação se amalgamasse aos fatos do meu passado.
Sim, com certeza, muitos de nós passamos uma vida inteira construindo uma obra que na maioria das vezes não se encaixa com o nossos íntimos desejos de vida.
Exemplos existem muitos. Desejamos a liberdade e construímos estruturas físicas e emocionais que nos imobilizam, fazendo que nos tornemos servo daquilo que construímos.
Deixamos de ser senhor de nossos destinos. Colocamos nosso livre arbítrio dentro de uma faixa muito estreita e nosso futuro parece pre-destinado.
Retornem ao seu passado e visualizem.
A infância, quando boa, nos fornece tudo aquilo que desejamos para ser feliz.
Ao entrarmos na adolescência absorvemos valores que muitas vezes não vão de encontro ao que gostaríamos de fazer ou ter. O sentimento gregário  da adolescência muitas vezes nos tira do rumo que gostaríamos de ter. Moda, sexo, poder, consumo aparecem de maneira muitas vezes caótica e levam a caminhos estranhos.
Não temos um rito de passagem concreto em nossa sociedade mas se espera dos jovens adultos alguns atos e comportamentos. Ter sucesso é essencial, mas os valores que determinam o que é sucesso  são amorfos. O gozado é que estes valores acabam se cristalizando em status financeiro e social. E aí começa os grandes conflitos shakespeariano; ser ou não ser.
Ser, viver o que desejo, não ser, viver dentro daquilo que construí.
Exemplo são muitos:
Desejo ser um professor , mas não vou ser porque não dá status financeiro e social.
Faço uma grande dívida para comprar um apartamento no bairro mais badalado da cidade, quando muitas vezes gostaria de uma boa casa em um lugar mais simples.
Amor se foi, desencontros acontecem. Sei que posso recomeçar, mas nada faço.
Trabalho em um ambiente estressante, fazendo aquilo que não quero, sabendo que existe um local onde isto seria diferente.
Por que fazemos isto?
Transcorrem os anos e como adultos maduros nos questionamos o que estamos fazendo. Muitos não gostam do que ocorre em suas vidas. Com a vivência, os valores parecem querer mudar.
Mudança, palavra doída. Coragem para mudar, difícil. Em um prato da balança o que desejo, no outro aquilo que construí.
Benditos são aqueles que seus desejos estão expresso naquilo que construíram.
Na balança, na maioria das vezes, o prato da Obra pesa mais que o prato da Vida.
É uma pena. Nossos desejos ficam estocados. Nossos sonhos se esfumaçam. Sem sentir começamos a nos fossilizar. Voltamos ao nosso passado antes daquilo que construímos. Lá é que era bom. As pessoas já não são as mesmas. Todas as coisas eram bem feitas.
- " Hoje nada presta"
Antes da Obra existia Vida.
Vida como desejo, Vida como liberdade.
E agora, como fica?
Fica e não muda. Se fossiliza. Mas a alma é indomável e sempre estará questionando:
- "Viva e seja, por que não?"
Mas o medo de mudar sempre diz não.
E no crepúsculo da velhice, olhamos outra vez para trás e perguntamos; por que não fui?
É tarde.
Bendito são aqueles que foram e viveram.