segunda-feira, 22 de junho de 2015

Á Minha Família, o Nome

Fatos cotidianos, quando refletidos, nos remetem à um tempo e a um espaço ás vezes esquecidos.
Em um pequena reunião de família fui questionado sobre a supervalorização que dou ao meu sobrenome paterno já que a percepção externa me vêem como continuação física e emocional de minha mãe.
Não tinha pensado nesta pergunta mas a resposta me pareceu clara. O nome paterno era uma palavra  mais ampla. Poderia implementar valores a este nome. Valores que julgo importante. Só por isto.
Mas esta pergunta me estilingou a outro tempo,a outro espaço, no passado.
Conversava com minha mãe e ela me explicava com aqueles olhos sofridos e doces
- Filho sempre quis ter uma família e vocês são a família que tenho. É uma grande graça recebida.
Ficava olhando aquele rostinho miúdo, magrinha mas esticadinha. Aquela aparente fragilidade era resultado de uma vontade férrea de ter aquilo que mais almejava. Uma família, no seu mais amplo sentido espiritual, emocional e físico, afinal isto lhe fora negado na tenra infância. Morte da mãe, abandono do pai.
A sua entrega foi total a sua família. Sua grande felicidade, seu grande sofrimento.
Muitas vezes aqueles que recebem não entendem o que estão recebendo. Imaturidade e egoísmo. Funcionam como um buraco negro, absorvem tudo que está a sua volta e não percebem que estão destruindo  aquilo que o alimenta. É uma característica deste Universo, seja material ou espiritual. Talvez um dia venhamos entender.
Bem, esse desejo de minha mãe enraizou muito cedo em mim. Coisas da alma. Mas a compreensão da amplitude deste desejo só veio quando ela estava partindo. Ela estava indo, eu esboroando e minha família esfarelando. Talvez este foi meu último aprendizado com ela e foi triste e muito sofrido pois acho que foi a única vez que aprendi com minha mãe pelo não exemplo. Foi ali que decidi, não da maneira clara que enxergo hoje, que valores seriam a cola da minha família. Não importa se uma parte estivesse na Patagônia, outra no Nepal. Estar junto não era essencial, partilhar dos mesmos valores sim. Valores mudam e tem que mudar para nossa sobrevivência física e mental mas o arcabouço está lá.
Ao afirmar isto vejo o sorriso doce de gozação dos meus filhos. Risos da observação das diferenças entre eles próprios, diferenças que um dia verão que não são tão grandes quanto acreditam.
Me puxei de volta e pensei no nome. Realmente não é importante, o importante é o significado que damos à ele. É um nome que tem 700 anos e não tinha significado algum para nós. O significado está sendo dado agora pelos nossos valores; valores estes muito próximo as de minha mãe, com pequenas mutações, pois afinal temos que mudar para sobreviver.
Acho que de certa forma estão certo, sou uma continuidade dela. Ela foi o meu arcabouço.