De vez em quanto me pego rastreando o passado e perguntando se valeu a pena as minhas escolhas. Isto vem de forma natural, é o meu tempo para estas perguntas.
Fiz muitas escolhas na vida até aqui, o que é bom, significa que "vivi muito do que deve ser vivido" ( esta é uma frase metafísica ). A maioria das escolhas foram muito boas mas algumas se revelaram sombrias. Trouxeram amargura e um gosto acre para a alma. E aí veio a pergunta, o que me levou a estas escolhas.
Matutei durante algum tempo sobre esta pergunta, deixei as idéias sedimentarem pois nem sempre o processo intelectual e racional nos mostram um caminho, diria até que toda vez que fazemos uma escolha ela está muito impregnada por nossas emoções, coisas da alma.
Bem, nas nossas escolhas dois polos nos atraem, um externo ou coletivo e outro interno ou individual. Um é Crença Coletiva no qual estamos imerso, sejam elas sociais, politicas, religiosas, éticas e muitas outras, e o outro as construções individuais, feitas pela alma, pelo corpo, por experiências e por valores familiares, os quais chamo de Credo. Estes polos não são atratores nem repulsores, eles podem ser antagônicos ou não.
Quando fazemos nossas escolhas estamos sempre sendo solicitados pelos campos ( poderíamos até qualificá-los de gravitacionais ) desses dois polos.
Me parece que a escolha mais suave se dá quando quando estes dois polos são bastante aderentes ou seja eles nos arremetem em uma mesma direção pois os valores que à eles estão incorporados estão muito próximos. Isto não significa a certeza que estas escolhas nos trarão felicidade, lembro sempre que a única constante na vida é a impermanência. Coisas mudam mas esta condição, diria que é a melhor num futuro próximo observável.
O furdunço começa quanto aquilo que desejamos, que acreditamos, que é o meu Credo está em total desacordo com os valores e exigências nas Crenças que nos imerge, ou no sentido reverso as exigências das Crenças estão em total dissonância com o nosso Credo.
Aqui se faz necessário um pequeno adendo; a complexidade desta divergência é muito maior do que possa ser expressa haja visto que muitas vezes desconhecemos grande parte do nosso Credo apesar de estar impresso em nossa alma e em nossa mente. Somos nestes casos analfabetos funcionais do nosso Ser. No sentido contrário muitas vezes não conseguimos decifrar em grande parte o que a Crença exige de nós.
E quando o que acreditamos vai de encontro do que nos é exigido ?
Difícil resposta. Rastreei o passado procurando minhas escolhas nestas condições e descobri o verbo "mitigar" ou seja na maioria das vezes procurei suavizar os meus desejos ou colocar as exigências no seu nível mais baixo. Obtive algum sucesso mas algumas destas escolhas continuaram sombrias. Sendo assim o que fazer?
Outra escolha precisa ser feita, permanecer ou não nesta região sombria e qual o ônus da nova escolha?
Tentei racionalizar.Angustiante. Procurei estes momentos no passado, revivi alguns deles e descobri que por coragem ou covardia não conseguia aceitar esta condição por longo tempo e o rompimento se fez necessário, não do meu Credo, não da Crença no qual estava imerso mas sim da situação que a gerou e manteve. A catarse prevaleceu. Teve ônus ?
Sim. Um grande sentimento de culpa pois o rompimento é sempre brutal e gera grandes perdas momentâneas, espirituais e materiais. Valeu a pena ?
Não foram muitas escolhas sombrias mas a atitude valeu pena para a maioria , outras poucas ficaram dúvidas mas a escolha da escolha foi feita. O ciclo se rompeu e o autoperdão foi essencial.
E dentro deste entendimento olhando para fora acredito que vi:
- gente que tem seu Credo mas vive a sua Crença e quando são distintos, vivem a hipocrisia.
- gente que vive seu Credo mas não vive sua Crença, são os rebeldes ou os depressivos.
- gente gente que não conhece seu Credo e vive sua Crença e ficam próximo a esquizofrenia.
- gente que vive seu Credo mas desconhece a sua Crença e se aproximam da psicopatia
- gente que vive o seu Credo e sua Crença em toda sua grandeza; são os santos e os alienados
E por aí vai....
Mas nestas visitas as minhas escolhas e tentativas de entendimento de alguns porquês, o que me chama atenção é que muitas vezes não entendemos muito bem no que acreditamos e também nas exigências das crenças no qual estamos imersos.
Me parece, hoje , que nossas escolhas podem ser mais suaves se o conhecimento das Crença e do nosso Credo for um pouco mais profundo.
Podendo aconselhar, diria resumindo, antes de uma escolha importante racionalize, se emocione , pense no bônus e o ônus e faça.
Não fazer uma escolha é a pior opção, pois é quase certeza que o limbo existencial lhe aguarda.