sexta-feira, 24 de junho de 2022

Minhas reencarnações terrestres

Sempre digo que tive e tenho uma vida profícua. Quando revisito o passado parece que vivi em pequenos universos que estavam ligados pela linha do tempo no qual naveguei. Fico imaginando que são pequenas ilhas com seus povos, seus costumes e seus valores.

Na primeira ilha cheguei como alma e encarnei. A maioria do pessoal não era autóctone. Vieram de ilhas circunvizinhas onde a terra era pobre, o clima era inclemente e tudo era possuído por poucos. Procuravam dias melhores para a fome e para o espírito mas eram estranhos em uma terra que não era estranha. Para sobreviver cultivavam valores que trouxeram e outros que permitiam se esgueirar que nem lodo nas brechas dos que lá estavam e não queriam ocupar. Trabalho muito duro que degradavam o corpo e muitas vezes degeneravam a alma. Aqui incorporei os primeiros valores que era de extrema proteção com aqueles que são nossos, desconfiança com aqueles que não são e de uma violência enrustida de quando confrontados. A miséria rondava com frequência aqueles que vivenciava. Interessante é que havia amor que muitas vezes era expresso de maneira agressiva. O ambiente propiciava esta dicotomia.

A segunda reencarnação foi nesta mesma ilha. Fomos de certa forma aculturados pelos que lá estavam. Assumimos os valores locais. As brechas que colonizamos permitiu que não só o lodo crescesse mas também plantas mais robustas e houve um maior aplainamento social e cultural. Estes novos valores permitiu que olhássemos mais adiante lembrando nossos ancestrais quando se tornaram bípedes. Ambições surgiram no meu peito e alimentaram minha alma. Eu já podia olhar o futuro.

A terceira reencarnação foi abrupta e em outra ilha. Ambiente diferente, gente nova, valores novos e estética diferente. Medo, inferioridade e um pouco de comiseração. A todo momento a minha mente lembrava das palavras ditas de quando parti : " só tens este caminho para chegar à terra de suas ambições ". A ponte que atravessei eu parti, não dava para voltar quando olhei para frente e vi imensas possibilidades. Tempos difíceis e duros. Tive que superar o medo, o sentimento de inferioridade e eliminar a comiseração. Se alguém pergunta, conseguiu ? Respondo, não tanto quanto gostaria. Se perguntarem também se a caminhada foi racional ? Respondo, muito pouco, muito mais a vontade da minha alma. Ficaram sequelas.

A quarta ilha já estava à vista quando reencarnei. De certa forma passava pela minha mente que seria uma passagem de mais alegria e de mais conforto. Ledo engano, vieram alegrias , tristezas, amor, dor e desamor. Tinha sido forjado, enverguei muitas vezes mas não quebrei. Já não era mais responsável só por mim. Algumas almas encarnaram com meu sêmen. Me escolheram como progenitor. Imensa alegria. Imenso amor. E imensa tarefa. Alimentar e saciar a fome de alimentos e de amor da sua matilha não é fácil quando todos estão caçando pela sobrevivência seja ela biológica ou social. Novos valores devem ser priorizados pois como diz o ditado "farinha pouca meu pirão". O plano ético fica constantemente acossado para se cruzar a linha entre o bem e o mal. Somada a todas estas demandas temos a do relacionamento. Felizes são aqueles que descobrem que para construir o seu castelo precisam cortar as pedras juntos, cimentar e assentá-las juntos, dar um passo para trás, contemplar e admirar a sua obra. Não consegui e o sofrimento foi enorme pois tive que aprender o significado da palavra ruptura. Não houve sentimento de fracasso, só dor e alívio. Minha visão de mundo mudou drasticamente. O idealismo murchou e o ceticismo floresceu.

Com ceticismo na alma e cicatrizes ainda abertas minha última reencarnação terrestre me levou à procura de um lugar interno e externo no qual viver seria encontrar a plenitude. Utópico, sem dúvida, mas talvez a caminhada trouxesse novas benesses. Cicatrizes foram lambidas e fechadas, alguns atalhos foram tomados e se mostraram murados e fechados mas a senda principal nunca foi perdida de vista. Nela reviver e existir se tornaram sinônimos. Pedaços que deixei para trás me reencontram agora de uma maneira nova e gratificante. Existo em um espaço que criei e que expando a todo momento. Não creio que tenha tempo para outra reencarnação, nem a quero. Estou bem. Encontrei uma boa parte daquilo que  sempre procurei. Sei que existe muito a ser conhecido e vivido, mas isto fica para as outras reencarnações celestiais.