quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Parábola da Criação - Cabala (I)

Um dos livros mais estudados pelos Cabalistas chama-se Zohar. Com autoria controversa e discutida é composta de pequenos livros e como característica da literatura judaica, contém muitas parábolas para explicação do sagrado e do profano. No seu primeiro volume existe uma  passagem descrevendo " o inicio do inicio". Texto intrinsecamente obscuro, mas esclarecido por Rabi Ashlag, um rabino do século passado, do qual fiz um pequeno resumo, que espero esteja relativamente coerente para quem venha ler:
Antes de o Universo ser criado só existia Deus, que era tudo, se é que esta palavra consegue expressar algo desta dimensão. Por algum motivo que desconhecemos Deus criou este Espaço/Universo que conhecemos. Mas como Ele fez isto, se Ele era tudo. Deus teve que se contrair para que este Espaço fosse criado. Este Espaço ou Vaso, como chamam alguns, tinha a mesma essência de Deus mas tinha uma natureza diferente. Tinha a essência de Deus porque dele emanou, tinha natureza diferente pois Deus só Doa e o Vaso só podia receber.
Como a dimensão/potencial de Deus era infinitamente maior que este Vaso, a tendência era que este potencial maior, com sua energia ( a Luz de Deus ), penetrasse ( doação ) neste Vaso. Como o Vaso tinha uma natureza diferente, um potencial infinitamente menor, existia a vontade de receber a Luz de Deus.Mas como o Vaso foi criado com a essência de Deus, havia nele também a necessidade de retornar ( doar ) a Luz recebida. Nesta monumental e dantesca dinâmica de doar e receber a Luz, o Vaso não suportou e estilhaçou/explodiu, gerando este Universo Material e Espiritual que tão pouco conhecêssemos. 
Os desdobramentos desta discussão são imensos e extremamente atuais tanto no campo religioso como material/cientifico, mas destaco três pontos:
1 - O Universo é dicotômico. Não existe a matéria sem a antimatéria e não existe o Bem sem o  Mal
2 - O ato de doar é o caminho para as nossas origens, Deus. E o ato de receber é que nos faz humano, com todo seu paradigma.
3 - O ato de Criação é um ato de penetração tanto espiritual quanto carnal. Por este motivo somos co-participantes no ato de Criação de Deus.
Pensemos sobre isto.Um pouco esotérico mas com uma aplicabilidade incrível no nosso dia-dia.

domingo, 10 de novembro de 2013

O filho pródigo ( A visão do irmão mais velho )

Acredito que todos apreciam as parábolas de Jesus. Trazem ensinamentos maravilhosos. Mas uma delas sempre me chamou atenção pois envolve percepções diferentes de um mesmo evento dentro de uma família. A percepção do pai é descrita nesta parábola de forma explicita, o que não significa que não exista dubiez. Mas qual seria a percepção do filho mais velho na Parábola do Filho Pródigo ?
Interpretemos o texto e vejamos onde nos leva:
"O mais jovem diz ao pai: Pai, dá-me a parte da herança que me cabe ".
O que o filho mais velho pode interpretar desta solicitação: meu irmão pede parte da herança que lhe cabe mas isto não é certo. As terras, os gados e o trigo são propriedades de meu pai. Adquiridos com seu suor. Não existe herança pois meu pai ainda vive. Com que direito meu irmão faz este pedido se nada construiu?
"E o pai dividiu os bens entre eles".
Pelo texto não houve oposição do filho mais velho. Aceitou a decisão sabendo não houve equidade. O filho mais novo levou a metade dos bens e o pai e o filho mais velho ficaram com a outra metade.
"Dissipou sua herança em uma vida devassa".
Aparentemente isto já era esperado pelo filho mais velho. A falta de oposição do filho mais velho assim como a falta de recomendação ao irmão mais novo para a retidão e para prosperidade nos indicam esta visão.
"Quantos empregados de meu pai tem fartura, e eu aqui, morrendo de fome"
A decisão de retorno do filho mais novo não foi por arrependimento de ter levado uma vida devassa, mas sim, pela condição miserável que vivia sem a fortuna dada por seu pai.
" Mas o pai disse aos seus servos : Ide depressa trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandália nos pés. Trazei um novilho cevado e matai-o; comamos......."
" Seu filho mais velho estava no campo"....... "Chamando um servo perguntou o que estava ocorrendo" ....."Então ele ficou com muita raiva"
Talvez esta raiva do filho mais velho não seja por ciume como insinua a parábola e sim por algumas situações previsíveis e a pouca sabedoria do pai. Quando do pedido de herança, a prudencia  indicaria uma ajuda de alguns bens e ensinamentos, do pai para seu filho mais novo, para inicio de uma nova e independente vida e não a entrega de metade dos bens.
Ao cobrir seu filho mais novo de honrarias, o pai conduz o filho a mesma condição anterior a sua partida, no seio da família. Ora, o caráter do filho antes da partida não estava totalmente delineado, mas no seu retorno sim. Talvez a sabedoria recomendasse o receber de braços abertos, com todo amor de pai, mas em condição diferenciada para que pudesse provar que realmente estava arrependido e com ajuda de seu pai iria reaver a fortuna perdida.
"Mas o pai lhe disse: Filho (mais velho), tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu"
Por que destas palavras do pai?
A situação dos bens já estava decidida na partida do filho mais novo. Não havia necessidade do reforçar este ponto, a não ser que houvesse dúvida. Ao honrar o filho com a mesma deferência de antes da partida esta dúvida se instala e com certeza junto com a cizânia.
"teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado"
Será que o irmão mais velho concordou com estas palavras de seu pai?
Acredito que não. Ele reviu o irmão, logo não estava morto. Seu irmão estava em local desconhecido e retornou, mas será que mudou?
Pouco provável...
Nos dias de hoje quantos filhos pródigos dilapidam a fortuna de seus pais com drogas, quantos filhos pródigos matam seus pais por ganância, quantos filhos pródigos permanecem simbioticamente ligado a seus pais sugando toda sua energia vital?
Meus estudos continuam até eu conseguir entender de forma clara e humana esta parábola de Jesus, mas até lá, só resta pedir perdão pela minha ignorância.