sábado, 28 de junho de 2014

O Querer e o Tempo

Pense no querer ou seja no desejo. Desejo, uma palavra voluptuosa. Lembra os sete pecados capitais. Tudo bem, mas não vamos por este caminho.
O que desperta o querer?
Um sentido ou mais. Pense no cheiro. Pode nos levar ao desejo de comer um bom prato, à tempo não saboreado. Pode nos levar a um desejo de comprar um bom perfume. Pode nos levar ao querer de rever alguém, a pouca ou a muito esquecida.  Talvez dos sentidos, o mais luxuriante.
Mais e os outros?
Despertam tantos desejos quanto. A visão, situação vistas, paisagens exuberantes, lindas figuras nos levam a tantos quereres.
Uma divina música, desperta grandes desejos e assim como o tato e o paladar.
Mas se estes quereres estão conosco, de onde vêm ?
Do nosso passado, com certeza. De situações vividas e valores criados ou absorvidos.
O lastro dos nossos quereres é o nosso passado.
E onde está o resultado dos nossos quereres?
Acho que todos concordam que está no futuro.
Temos que tomar ações para que nossos quereres se concretizem.
Sem ação perpetuamos nossos quereres no presente e aí fechamos a laço.
Como?
O nosso querer é o agora. Que está amarrado firmemente em nosso passado e do qual só nos poderemos libertar no futuro.
Sim, temos que libertar dos nossos quereres, concretizando-os no futuro para que possamos ter novos quereres e assim modificar a nossa percepção do mundo e criarmos novos valores. O ciclo se fecha e o laço é reaberto com novos desejos. Só crescemos desta maneira.
Não podemos deixar nossos quereres encalharem no presente e sermos uma represa de desejos.
Isto com certeza será a morte em vida. Se existe um inferno, será este.

Pensem sobre isto.

sábado, 14 de junho de 2014

A família e a tribo

Durante muitos anos acreditei que a individualidade era primordial em todos os sentidos. Tanto no sentido da  essencialidade  quanto da prioridade. Talvez por experiências passadas e exemplos e não-exemplos criei esta visão. Hoje tenho muitas dúvidas sobre estes valores.
A individualidade embute visões positivas e negativas em nossos relacionamentos com o próximo ou com a coletividade.
O lado bom é a motivação para sonhar e, ao mesmos, torná-los concreto. Não existe o par, é só você. Não tem porque esperar. Eu sou, eu faço.
O lado ruim é o isolamento que a individualidade impõem. E este é o nó, não sei só meu ou de todos.
Como ser humano só conseguimos entender o mundo através dos contrários. Se temos o indivíduo temos o coletivo.
A existência do individuo e do coletivo é definido por seus valores; valores estes que muitas vezes não podem ser somados.
Os valores do coletivo tem como alicerce a sobrevivência da espécie, o bem estar da comunidade e sua prosperidade. Estes mesmos valores quanto transferidos ao individuo podem ser contrapor ao coletivo. Nem sempre a sobrevivência do individuo significa a sobrevivência da coletividade, nem sempre o bem estar e muito menos a sua prosperidade.
Tudo pode ser deturpado pela ambição do homem tanto no plano coletivo quanto individual, que nos mostrem os sistemas sócios/políticos do século passado, o Comunismo e o Capitalismo, que nos mostrem as seitas radicais e o ateísmo pragmático e assim por diante.
Todos estes movimentos, levaram sem dúvida a uma exacerbação do individualismo sobre o coletivo e isso de certa forma mudou o conceito de família.
Apequenou. Tudo mudou, até o tamanho do apartamento!!!
O espaço de troca se tornou tão pequeno. O espaço de amar muito vezes ficou restrito a eu e você e não temos mais o nós. O tempo de ser feliz reduziu pois temos à tão poucos para  compartilhar as nossas emoções.
Não temos mais a tribo.
Que nos ajude a parir. Que nos ajude a criar.  Que nos ajude a procriar . Que nos ajude a envelhecer.
Não temos mais a tribo para dançar e festejar a vida. Não temos mais a tribo para cantar e chorar os nossos mortos.
E isto me faz muita, muita falta.
Ah!! Cheguei a conhecer um pouquinho disto. Não cultuei. Parte culpa minha, parte dos outros.
Como todo jovem preferi cultuar o individualismo. Talvez modismo e, ou talvez, falta de fé.
Não importa.
Hoje preciso desta tribo, quero esta tribo. Envelheço mas não é só por isso.
Quantas vezes não entendi o mundo e não tive quem me explicasse.
Quantas vezes me machuquei e perdi cedo o ombro para chorar.
Quantas vezes me vi na borrasca e não consegui um porto seguro para atracar.
E hoje, quantas vezes já me sinto cansado e preciso de ajuda para descansar
Preciso desta tribo. Ela virá. Sei que não verei a Grande Tribo.
Mas uma parte já está comigo:
Família.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Os olhos de nossos filhos ( curta )

Tomando café de manhã, aproxima-se meu pequeno filho.
"Papai tá tliste". Grande surpresa. Dois anos e soube reconhecer.
Dei um sorriso melancólico. Logo depois um sorriso de pedido de perdão.
Que nos perdoem nossos filhos por não percebermos o quanto eles nos percebem.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Da dinâmica física à social

Em meu período de aperfeiçoamento como engenheiro, estudei com muito afinco o comportamento dinâmico das máquinas. Uma das condições mais estudadas é a de um sistema mecânico quando carregado ou, em alguns casos, descarregado rapidamente. O efeito desta ação torna o sistema instável durante um determinado tempo. Alguns componentes destes sistema absorvem mais energia, outros menos. Esta energia, ao longo do tempo, será absorvida ou dissipada pelo sistema, de forma mais rápida ou mais lenta e este tenderá a um novo ponto de equilíbrio. A este período podemos chamar de amortecimento ou acomodação do sistema ao choque. Caso a energia ao sistema seja excessiva haverá um rompimento ou quebra.
Me pego pensando se dinâmica social de alguma forma poderia ter o comportamento similar.
Pensando nos fatos recentes que ocorreram não só em nosso país como no mundo vejo bastantes similaridades.
Com o crescimento abrupto nos últimos anos de entrada de capitais devido a vários fatores, assim como uma forte redistribuição de rendas, o mercado brasileiro recebeu um forte choque.
Houve uma mobilidade forte nas classes sociais, um aumento forte de demanda por vários tipos de serviço e produtos e uma exigência maior pela entrega de bens e serviços pelo governo. Houve um desequilíbrio.
Estes movimentos afetam de maneira distintas os diversos segmentos da nossa sociedade.
De maneira bem sucinta podemos afirmar que segmentos industriais foram altamente beneficiados, vide a industria automobilística, naval, petroquímica,eletro-eletrônica, agroindústria e outras. A exceção se deu nas indústria de bens de capital que não percebeu e por conseguinte não se preparou para estas mudanças. A concentração deste segmento industrial está geograficamente situado no estado de São Paulo, setor este bem oligopolizado e vivendo por muito tempo sob as benesses e proteção do estado ( BNDES e reserva de mercado ). O porta-voz deste segmentos são a FIESP e CNI, grandes formadores de opinião junto as mídias tupiniquins. Este segmento parafraseia um dos ditados mais retrógrados da geopolítica; o que é ruim para FIESP é ruim para o Brasil.
Realmente, continuam no século XX.
Outro segmento que muito se beneficiou foi o mercado a varejo e o setor de prestação de serviço. Notaram como o preço nestes setores foram estressados ou seja esticados.
Com o aumento do poder aquisitivo determinados setores de serviço e produtos aumentaram seus preços. Analistas de mercado entram e soltam a máxima, "excesso de demanda com baixa oferta levam a esta situação e aumento da inflação". Correto, mas o nosso empresariado muitas das vezes não tem o espirito animal de fazer acontecer e sim a síndrome do escorpião. Mata o próprio parceiro sabendo que pode morrer. Aumentos abusivos de preços e produtos levarão sem dúvida a quebra de muitas médias e pequenas empresas.
Lembremo-nos que a paixão precede a racionalidade. "Dinheiro na mão vendaval".
Com a redistribuição veio a paixão pela aquisição e agora está chegando a racionalidade do questionamento e com a quantidade e intensidade maior do que a anterior ao choque. A atuação do Banco Central foi um excelente reforço a racionalidade. O tempo do amortecimento e acomodação chegaram e chegaram com uma nova e ampla classe média consumidora um pouco mais esclarecida pelos seus erros e acertos financeiros. O nosso país está em outro patamar. Não dá para voltar atrás.
Tentar voltar a uma condição sócio/econômica anterior, com reconcentração de riquezas pelas camadas mais ricas poderia ser comparado ao descarregamento extremamente rápido de um sistema físico com um alto risco de rompimento e quebra.
Não teremos, acredito outro ciclo acelerado de crescimento tão cedo aqui e no mundo e isto não é mal. Podemos nos planejar e preparar para um crescimento adequado social e financeiro. E quanto é isto ?
Não sei e ainda não vi ninguém responder. Mas dentro de um raciocínio lógico crescer de 2 a 3% acima do nosso crescimento vegetativo, seria bom.
Como fazer isto?
É necessário atuar em muitas frentes mas uma delas na minha opinião é essencial. É atuar na frente da ética e do temor. Parece filosófico mais não é, em nosso país.
Não podemos continuar na velha história do " é mas não é muito". Sabemos que a vida não é digital mas não conseguimos entendê-la sem os antônimos.
É necessário, agora mais do que nunca, ouvirmos os discursos, observarmos os fatos, confrontar o dito com o feito e nos posicionarmos de forma ética pela ação.
Parafraseando Julio Cesar; não basta aparentar ser, temos que ser.
Nosso país não pode continuar ser um "Facebook".