Em meu período de aperfeiçoamento como engenheiro, estudei com muito afinco o comportamento dinâmico das máquinas. Uma das condições mais estudadas é a de um sistema mecânico quando carregado ou, em alguns casos, descarregado rapidamente. O efeito desta ação torna o sistema instável durante um determinado tempo. Alguns componentes destes sistema absorvem mais energia, outros menos. Esta energia, ao longo do tempo, será absorvida ou dissipada pelo sistema, de forma mais rápida ou mais lenta e este tenderá a um novo ponto de equilíbrio. A este período podemos chamar de amortecimento ou acomodação do sistema ao choque. Caso a energia ao sistema seja excessiva haverá um rompimento ou quebra.
Me pego pensando se dinâmica social de alguma forma poderia ter o comportamento similar.
Pensando nos fatos recentes que ocorreram não só em nosso país como no mundo vejo bastantes similaridades.
Com o crescimento abrupto nos últimos anos de entrada de capitais devido a vários fatores, assim como uma forte redistribuição de rendas, o mercado brasileiro recebeu um forte choque.
Houve uma mobilidade forte nas classes sociais, um aumento forte de demanda por vários tipos de serviço e produtos e uma exigência maior pela entrega de bens e serviços pelo governo. Houve um desequilíbrio.
Estes movimentos afetam de maneira distintas os diversos segmentos da nossa sociedade.
De maneira bem sucinta podemos afirmar que segmentos industriais foram altamente beneficiados, vide a industria automobilística, naval, petroquímica,eletro-eletrônica, agroindústria e outras. A exceção se deu nas indústria de bens de capital que não percebeu e por conseguinte não se preparou para estas mudanças. A concentração deste segmento industrial está geograficamente situado no estado de São Paulo, setor este bem oligopolizado e vivendo por muito tempo sob as benesses e proteção do estado ( BNDES e reserva de mercado ). O porta-voz deste segmentos são a FIESP e CNI, grandes formadores de opinião junto as mídias tupiniquins. Este segmento parafraseia um dos ditados mais retrógrados da geopolítica; o que é ruim para FIESP é ruim para o Brasil.
Realmente, continuam no século XX.
Outro segmento que muito se beneficiou foi o mercado a varejo e o setor de prestação de serviço. Notaram como o preço nestes setores foram estressados ou seja esticados.
Com o aumento do poder aquisitivo determinados setores de serviço e produtos aumentaram seus preços. Analistas de mercado entram e soltam a máxima, "excesso de demanda com baixa oferta levam a esta situação e aumento da inflação". Correto, mas o nosso empresariado muitas das vezes não tem o espirito animal de fazer acontecer e sim a síndrome do escorpião. Mata o próprio parceiro sabendo que pode morrer. Aumentos abusivos de preços e produtos levarão sem dúvida a quebra de muitas médias e pequenas empresas.
Lembremo-nos que a paixão precede a racionalidade. "Dinheiro na mão vendaval".
Com a redistribuição veio a paixão pela aquisição e agora está chegando a racionalidade do questionamento e com a quantidade e intensidade maior do que a anterior ao choque. A atuação do Banco Central foi um excelente reforço a racionalidade. O tempo do amortecimento e acomodação chegaram e chegaram com uma nova e ampla classe média consumidora um pouco mais esclarecida pelos seus erros e acertos financeiros. O nosso país está em outro patamar. Não dá para voltar atrás.
Tentar voltar a uma condição sócio/econômica anterior, com reconcentração de riquezas pelas camadas mais ricas poderia ser comparado ao descarregamento extremamente rápido de um sistema físico com um alto risco de rompimento e quebra.
Não teremos, acredito outro ciclo acelerado de crescimento tão cedo aqui e no mundo e isto não é mal. Podemos nos planejar e preparar para um crescimento adequado social e financeiro. E quanto é isto ?
Não sei e ainda não vi ninguém responder. Mas dentro de um raciocínio lógico crescer de 2 a 3% acima do nosso crescimento vegetativo, seria bom.
Como fazer isto?
É necessário atuar em muitas frentes mas uma delas na minha opinião é essencial. É atuar na frente da ética e do temor. Parece filosófico mais não é, em nosso país.
Não podemos continuar na velha história do " é mas não é muito". Sabemos que a vida não é digital mas não conseguimos entendê-la sem os antônimos.
É necessário, agora mais do que nunca, ouvirmos os discursos, observarmos os fatos, confrontar o dito com o feito e nos posicionarmos de forma ética pela ação.
Parafraseando Julio Cesar; não basta aparentar ser, temos que ser.
Nosso país não pode continuar ser um "Facebook".