domingo, 29 de março de 2015

Querer Pronto ( Fast Relationship )

Nestas idas e vindas na rotina do cotidiano batemos papo com um, com outro, na fila do caixa do supermercado, na fila do self-service, no banco, no Pilates e assim vamos nos distraindo no dia a dia.
Sempre acreditei que é bom escutar, mais velho então, a preguiça ajuda.
- Sabe, não dá pra ter mais ninguém.
Faço cara "de porque".
- Não dá. Conheci muita "mulher" mas está difícil de ficar junto. É muita cobrança e só quer levar vantagem.
Faço outra cara "de como assim".
- Pô, querem tudo e não entregam nada. É balada, é jantar, é shopping, é encontro com as amigas e sobra pra mim, quando ela quer, um rala e rola fraquinho. Realmente não dá.
Desta vez  pergunto: "e a conversa?"
- Esse negócio de "DR" é um saco. Não rola comigo.
- Mas você não tem esperança de encontrar alguém que dê pra ficar.
- Tá difícil. Vou pra balada, encontro umas meninas, rola uma atração, a gente sai, mas depois não rola.
O apito apontava o caixa 4. Dei tchau e fui pagar as compras.
Estava alongando a musculatura no Pilates. Com o tempo parece que tudo encurta. Pergunto a fisioterapeuta por que no homem isto acontece e na mulher nem tanto, pois algumas coisas esticam. Ela manda eu calar a boca e prestar atenção no exercício. Calado meu ouvido fica mais aguçado e começo a prestar atenção na conversa de duas moças, nos aparelhos do lado.
- Mas você acabou com ele?
- Não dava mais. O cara só queria saber de cama. Não me dava a miníma importância. A prioridade dele era o futebol e sair de motos com os amigos. Se não fosse pelo sexo comigo eu ia achar que ele era "gay", apesar de isto não significa nada, né?
- É, mas e agora, como vai ficar?
- Vou ficar sozinha, é melhor. Chega de se sacrificar pelos outros e não receber nada em troca.
A fisioterapeuta me encaminhou para outra aparelho mas não antes de eu perceber que a colega vivia um momento semelhante.
Enquanto fazia uma série de abdominais para perder um pouquinho o perfil de máquina de lavar e se aproximar bem de longe de um tanquinho, fiquei pensando e dois fatos me chamaram a atenção na conversa; a temporalidade dos eventos entre as pessoas e a troca.
No primeiro momento me parece que entre o ato de olhar e surgir o desejo e a total intimidade física, o tempo é infinitesimal. A tesão e sua satisfação é imediata. E a intimidade emocional, onde fica?
A outra é a troca. Neste processo de doar e receber, as pessoas se acreditam fazendo um sacrifício. Vamos lembrar que sempre que houver um sacrifício é esperado algo em troca, tanto dos deuses quanto do companheiro e balança nestas trocas nem sempre são equilibradas quando são olhadas de lentes diferentes.
Estes pensamentos me levam a crer que pessoas querem pessoas prontas, com todos seus desejos, já embutidos e aceitos no seu par. Se não for assim, não rola.
E a construção?
Sim, tudo nada vida que é durável é construído, o estalar de dedos é mágica, é ilusão.
Perguntaria-me as mocinhas e rapazinho; construir em cima de que?
Papo para minha próxima elucubração.

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