O que foi, o que é e o que será?
Para qualquer comparação temos que ter um ponto de referência e este está sempre no passado. Para uma pequena reflexão revisito o passado. Ele está sempre embaçado, o óculos que usamos nos prega algumas peças. A lente da memória está muitas vezes cansada e os fatos estão tão longe que fica difícil enxergar com clareza e a outra lente, da culpa e vergonha, ajuda a distorcer aquilo que já não está muito claro, mas mesmo assim insisto.
Olhar como foi forjado o meu ser sob diversos aspectos é a principal procura. Vasculhando o passado, no início da infância, recordo um ambiente inóspito e agressivo. Viver a beira de um grande porto comercial e uma favela como reserva de mão de obra barata nos molda de maneira própria. A ética da sobrevivência nos molda a personalidade. Parece estranho mas o medo e a confiança andam de mãos juntas. Medo pela comida e o teto de amanhã e confiança, pois apesar estarmos lá, no limiar da miséria, ainda podíamos dividir com quem estava ao lado. Claro que cada espírito se moldou de forma diferente e muitos resolveram diminuir o seu tempo de passagem por aqui, por uma pseudo coragem ou loucura.
Veio a adolescência, a vida ficou um pouco mais abundante e a oferta de outros caminhos se insinuaram, mas as escolhas seriam tomadas por uma personalidade que foi forjada numa infância de carência.
Caminhos foram percorridos, onde a maioria de meus pares não tinham a minha origem social e econômica. Como consequência, um ingrediente a mais foi somado a minha personalidade. Um sentimento de inferioridade que eu compensei aumentando minha agressividade.
Avancei, a minha racionalidade cresceu talvez pela minha formação.
Início da fase adulta: a Vida, em todo seu esplendor de Amor e Dor, explodiu no meu peito. Naveguei por doces mares e enfrentei boas tormentas. Deixei muitas coisas para trás, peguei muitas coisas à frente. O embate sempre foi uma constante.
Chegando na fronteira da velhice me aproximei de um porto, só que bem diferente da minha infância; um Porto de Vida, os mares que tinham que ser navegados, o foram, agora era pesar e fazer o ajuste fino da minha existência. Não se fazem mudanças bruscas na velhice, penso eu. O que mudou na minha trajetória e que precisa ser ajustado?
A parte física, nada a comentar. O tempo é democrático com todos.
O que muda é como emocionalmente encaramos a Existência e suas demandas neste plano. E aí volto à minha infância onde os dois principais sentimentos que moldaram minha personalidade o Medo e a Confiança continuaram a me guiar.
O medo tem raízes no passado, no presente e no futuro. O passado nos assombra por uma possível repetibilidade daquilo que nos magoou, daquilo que nos trouxe dor. O presente nos amedronta com suas demandas e a possibilidade de não atendermos e o futuro, que questiona a nossa competência de concretizar os nossos sonhos.
O medo é físico. O medo é ter ou não ter. Logo o equilíbrio está na Confiança, que podemos encarar como algo espiritual. É ser ou não ser.
Hoje vejo que esta é a grande luta.
Meu medo do passado mudou. Hoje dificilmente atos do passado me afetarão muito. Confio nisto mas tenho medo que as experiências dolorosas que tive se apresentem aos meus filhos.
Minhas demandas presentes são pequenas. Cheguei a um ponto que acredito que o que tinha ser feito para ter, foi feito e agora é só comprar um tênis de vez em quanto para atender meu trauma infantil.
Meu medo do futuro está diminuindo muito e tem uma lógica. Meus sonhos são pequenos. Posso não concretizá-los por diversos motivos e tenho certeza não me sentirei incapaz. O que se deixou de se fazer é muito pouco.
E por último o aumento da Confiança ou podemos chamar de Fé. Aprendi nesta minha caminhada que no mundo material quase tudo tem uma inércia. Apesar de acharmos que coisas acontecem de repente, isto não acontece. Existem avisos que às vezes não percebemos e quando acontece temos tempo de respirar. Temos que ter Fé que após uma queda, vem sempre uma ascensão.
Não nascemos só para morrer. Temos que ter Fé que a mudança é necessária, faz parte da caminhada.
Mudei. O Universo está mais suave...
Nenhum comentário:
Postar um comentário