Ao assistir televisão ou ler um jornal é espantoso a quantidade de informações que recebemos de dados econômicos. É taxa de câmbio, é divida pública, é taxa de investimento, é taxa de juros e vai por aí a fora. Mas impressionante ainda são as análises feitas por comentaristas econômicos ( jornalistas de televisão, professores de universidades, chefes de divisão de bancos, ex-diretores de alguma instituição governamental, etc...etc...e etc...). O interessante é verificar que estas análises não se sustentam por mais de uma semana. É incrível... Mas, mais incrível ainda, é que este pessoal continua fazendo previsões a todo momento, desdizendo o que disseram no dia anterior. É ser muita cara de pau.
Lembemo-nos que no inicio do ano, previram que teríamos um apagão energético e que o país entraria em uma recessão brutal pela falta de energia e o encarecimento da energia produzida devido a entrada das termoelétricas. Culpa do governo. Porque? Qual a lógica de culpar o governo? Talvez política...
Vamos aos fatos. Choveu como chove quase todos os anos. Os reservatórios que não estavam tão vazios assim, hoje estão em bons níveis . Caso tivéssemos uma seca prolongada, entrariam as usinas termoelétricas, que são alimentadas em sua maioria por gás. Foi para isto que elas foram construídas. Hoje além de termos boas reservas de gás, temos um contrato com a Bolívia de fornecimento por preços bem abaixo do que o estabelecido pelo mercado internacional. Nossa matriz energética é eminentemente hidráulica e continuará assim. Tenhamos em mente que a construção de novas usinas hidroelétricas demandam um tempo de maturação elevado. Passou a pseudo crise, ninguém fala mais nisto.
Depois disto veio a crise do tomate . Quanta bobagem foi dita e talvez o verdadeiro motivo não tenha se tornado claro. A leitura da inflação, pelos especialistas, que estaria ocorrendo uma contaminação em todos os setores devido ao tomate não se concretizou. Comprei na semana passada o quilo do tomate a R$ 1,60. A inflação foi descontaminada. Acredito que a causa básica tenha sido problema de radiação. Ainda bem que não temos usinas nucleares. Já pensou no samba do crioulo doido que nossos comentaristas iriam criar. Vade retro Satanás.
Tivemos mais algumas crises, como a da infraestrura, a da taxa de juros e outras que já esqueci por serem tão efêmeras. Mas vamos a última, esta com certeza será um "case" no futuro.
O presidente e o secretário do tesouro dos Estados Unidos resolvem injetar R$ 85 bilhões/mês na economia americana, mantendo o juro muito baixo para incentivar o crescimento econômico através do aumento de consumo (isto só vale para os EUA pois nossos economistas tupiniquins decretaram que este modelo está esgotado no Brasil e nós entraremos em uma crise se persistirmos. Haja Deus ).
As opiniões de comentaristas e economistas sobre o impacto desta decisão na economia brasileira tiveram um espectro de 180º, ou seja, opiniões totalmente contrárias o tempo todo.
Nos últimos meses ocorreu um boato que o governo americano iria retirar este incentivo.
Loucura total, dólar dispara pois os EUA será um buraco negro de sua moeda. Vai sugar tudo.
Fato: Não faltou dólar para iniciativa privada nem para pagamento da divida externa do Brasil. O Brasil continua com reservas em torno de $ 4oo bilhões.
Comentários dos nossos comentaristas e economistas: Teremos uma crise pois nossos dados macroeconômicos mostram que nossa economia não está bem equilibrada. A disparada do dólar afetará nossa economia profundamente pois não se trata somente de um fator externo mas também de um forte desequilíbrio interno.
Nas últimas semanas foi anunciado pelo secretário do tesouro americano a incerteza sobre o crescimento americano e com isto confirmou a manutenção do incentivo. Logo após foi anunciado o nome do novo secretário do tesouro que por seu perfil deverá manter a politica atual da Secretaria de Tesouro dos EUA.
Neste mesmo interregno, a Secretaria de Tesouro Americana, em tom de quase desculpa, solicita que países emergentes se preparem para a retirada gradual do incentivo do tesouro americano, gerando com isto uma possível alta taxa de retorno de capital de investimento, tanto quanto o especulativo para os EUA, e também o aumento das taxas de juros compatíveis com uma inflação adequada a este crescimento nos EUA. Esta recomendação é corroborada pela diretora-chefe do FMI.
Fato: O dólar caí no Brasil, chegando a patamares bem confortáveis para o nosso Banco Central.
Comentários dos nossos comentaristas e economistas: Eles sempre falam, não tem jeito mas com cara de bundão pois tanto a Secretaria do Tesouro Americana quanto o FMI declararam alto e em bom tom que mexidas nos incentivos para o crescimento americano podem afetar as economias emergentes. Este é o principal fator.
Procuro uma justificativa para tantas opiniões conflitantes. Seria isto um caso de esquizofrenia coletiva? Ou existe interesses outros além das tentativas explicar um cenário econômico?
Cheguei a conclusão que se pudêssemos dividir a Economia em dois grandes segmentos, seria possível entender um pouco mais estas discrepâncias. Teríamos então:
A Economia Real e Economia Virtual
A Economia Real é aquela em que estamos totalmente imersos. É a economia da nossa sobrevivência, é a economia do nosso conforto, é a economia do comercio, é a economia da produção, é a economia do investimento, etc.... Vejamos bem, isto tem corpo, tem inércia. Qualquer mexida que se queira fazer neste mundo econômico é necessário recursos e tempo. Neste universo os aspectos macro e microeconômicos tem sentido.
A Economia Virtual, a que muitos chamam de mercado, outros adjetivando chamam de mercado financeiro é uma economia sem corpo, sem inércia. São bilhões, senão trilhões de dólares virtuais flutuando em grandes nuvens digitais. Este dinheiro virtual parte é aplicado na economia real mas grande parte em especulações legalizadas chamadas de forma geral de mercado futuro. Neste mercado tudo se aposta e o principio é bem simples. Grupos, tanto privados quando governamentais, emitem papéis com valor de face presente e fazem promessa de compra destes mesmos papeis ( e aí se incluí também moeda e produtos) no futuro. Ora tem grupos que ganharão com a valorização e tem grupos que ganharão com a desvalorização. É uma queda de braço e vale tudo. Obviamente expectativas são geradas e manipuladas para atender a grupos de interesse e com isto se maximizar o lucro.
Isto pode justificar a alta especulativa do dólar de um dia para o outro, ou seja, um boato nos EUA fazem ocorrer uma valorização de 25%. Quem ganha , quem perde?
Aumento do tomate de quase 1000% em um mês, sem seca nem redução de safra. Com certeza o produtor não ganhou pois na maioria das vezes a safra é comprada no ato semeadura. Existe uma cadeia de comercialização que compra do produtor especula com o preço no varejo.
Estas ocorrências especulativas criam o estressamento de preços ( stress em inglês ) ou seja o capital virtual e especulativo vai esticar a corda do preço e do lucro ao máximo, onde enxergar oportunidades. Guardadas as devidas proporções a crise de 2008 dos derivativos desencadeada nos EUA teve este principio. Foram estressando o mercado de derivativos até um momento que se descobriu que não havia lastro suficiente para o valor destes derivativos.
Vemos então que esta Economia Virtual não obedece regras econômicas e sim a regras de um universo de oportunidades e ameaças de curto prazo que age tanto no nosso micro-espaço quando se compra algo de alguém que esta com a corda no pescoço, encurtando o preço de aquisição e se vende logo após maximizando o lucro ou quando se faz um ataque especulativo a moeda de um país quando este passa por uma turbulência sócio-econômica como já ocorreu conosco em um passado não muito distante.
Fechando o raciocínio, estes dois segmentos são siameses, não tem como separar. Para nós leigo é necessário que alguém que realmente conheça o meandro destes dois segmentos e que tenha uma posição isenta nos dê um cenário coerente e isto está extremamente difícil de encontrar. Fora isto o que temos assistidos são comentaristas e economistas emitindo opiniões ou criando cenários que interessam a grupos de interesse financeiros e políticos também e jornalistas orelhudos que por fazerem cobertura da área econômica se julgam doutores no assunto.
Tenhamos cuidado ao nos posicionarmos, o jogo é pesado.
Enquanto isto, por via das dúvidas, vou me comportar que nem o seu José da mercadinho. Puxo a gaveta, olho e conto, se tenho dinheiro compro, se não tenho não compro. Tchau.
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