A resposta é automática e começo a falar de meu pai. Mas o tempo tudo muda e eu já poderia estar falando de mim.
Sim, a passagem do tempo deixa obras e marcas. Temos filhos, temos netos.
Meus cabelos escassearam, poderiam dizer que o tempo não tem muita responsabilidade sobre isto, estão grisalhos, as rugas ainda não vieram mas os sulcos na face já chegaram. A necessidade de descanso aumentou depois de um trabalho puxado e os aborrecimentos me afetam com mais intensidade. São novos tempos, diz a minha racionalidade mas o meu lado emocional e psicológico não aceitam este diagnóstico com tanta tranquilidade.
Tantas descobertas a serem feitas, tantas suaves emoções a serem sentidas. Por que recusar isto?
Olho meus pares. Muitas vezes tento entrar no assunto mas uma barreira abstrata parece surgir entre nós. Não se discute desejos, não se discute sonhos. Somente fatos. Quem comprou, quem vendeu. Quem ficou enfermo e quem morreu. A aposentadoria diminuiu e as despesas aumentaram.
Alguns jogam buraco na pracinha, outros batem papo toda manhã na porta do banco, não sei o porque do banco, e outros mais ousados jogam futebol ou quiça um partida de tênis.
Mas a maioria nem isso fazem, Literalmente vestem o pijama e talvez considerem esta a melhor vestimenta para passarem pelo portal.
A pergunta, o que fazer ao entrar neste novo tempo, já me fiz centenas de vezes e cada vez que a faço vou recriando meu caminho. Ao recriar meus caminhos sinto que a velhice chega de maneira mais suave e lenta. Isto é bom.
Mas continuaremos a caminhar para o portal. É inexorável, teremos que atravessá-lo. A minha racionalidade diz isto mas e o meu emocional, meu psicológico, o que diz?
Difícil dizer. A base religiosa de todas as civilizações sempre esteve voltada para a morte, tanto na antiguidade como nos tempos atuais e todas justificam a nossa estada aqui para uma vivência muito melhor em um mundo futuro, sem a carne.
Essa embalagem pouca me convencia quando jovem, agora muito menos.
Talvez aos olhos dos parceiros eu esteja na contra-mão da espiritualidade pois teoricamente quanto mais velho mais espiritualista nos tornamos.
Concordo plenamente com a afirmativa, só tenho dúvidas quanto ao conceito de espiritualista.
Ser espiritualista é cuidar bem do espírito enquanto ele estiver por aqui e por conseguinte do corpo, pois sem ele não estaríamos aqui. Logo o momento é o agora. O futuro seja aqui ou depois daqui não existe, é somente uma possibilidade. Já diz o ditado; o futuro à Deus pertence.
Se preciso cuidar bem do meu espírito e de meu corpo não existe momento melhor do que o agora, independente se tenho 30, 60 ou 90 anos.
Cuidar bem, o que seria ?
Acredito que se sentássemos para tentar descrever isto, cada um de nós faria uma extensa coletânea de princípios e regras e cada coletânea seria bastante distintas uma das outras.
Cuidar bem, para mim, neste momento, é estar puro com o meu Credo, estar em consonância com coisas em que acredito. Acreditar que sempre posso mas conhecendo as minhas limitações, continuar desejando e criando e recriando caminhos para concretizar estes desejos e muitas vezes nestes caminhos jogando-os fora porque perdem o seu valor. É o saber que minha alma está viva.
Caminho para o portal sem pressa. Tentarei chegar lá com meu corpo dizendo que aqui podemos ficar por mais um bom tempo. Caminho para lá com a alma me dizendo, somos jovens e temos novos horizontes a conhecer.
Epílogo:
"Uma alma velha não entra no Céu".
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