Em um lugar não muito distante existia uma pequena cidade conhecida como Cidade dos Carvalhos. Vivia lá um povo bem miscigenado e muito alegre. Traziam tradições de muitas partes do mundo. Labutavam mas não esqueciam de se divertir e filosofar. Os turistas que visitavam esta terra a curtiam imensamente. Lá muitas vezes as tradições se misturavam com as lendas. Uma das lendas era natalina.
Contavam, os carvalhenses, que em todos os anos, os habitantes escreviam a Papai Noel pedindo os presentes mais absurdos. Faziam até concurso para ver qual o pedido mais extravagantes. Muito engraçado. Mas o que deixava os estrangeiros encucados com esta tradição é que todos os moradores da cidade já sabiam o presente que iam receber. Um par de meias, o que era uma felicidade geral.
Em um tempo, não tão próximo ao Natal, apareceu uma moça, que pensava ser uma pesquisadora, querendo estudar as tradições e lendas dos carvalhenses. Moça da cidade, independente, apresentando uma intelectualidade desconhecida para o povo e muita cética. Foi colhendo material para suas pesquisas até que esbarrou nesta tradição. Por coincidência o Natal se aproximava e o concurso de pedidos já começava a esquentar e o tempo a mudar. Na Cidade dos Carvalhos as mudanças climáticas eram muito abruptas. O concurso estava bombando e a nossa pesquisadora não entendia o motivo desta alegria. Algumas pessoas do qual tinha se aproximado pediam que fizesse também um pedido mas não a conseguiam contagiar. A sua visão citadina não permitia que conseguisse enxergar uma razão para esta tradição.
Houve concurso, houve vencedor e houve comemoração, com muita gozação.
A noite de Natal chegou comemoraram com muita alegria, descontração e com muita fé no dia de amanhã.
A madrugada do dia de Natal prenunciou uma mudança de tempo. Vento forte e frio sopraram.
Na manhã, todos passaram no centro comunitário e lá estavam suas meias e para surpresa da moça de fora havia um par de meias com seu nome. Abriu e examinou a meia. Não tinha marca, o design não era bonito e o material, ao seu ver de baixa qualidade. Jogou, de forma disfarçada, a meia em uma caixa de lixo próxima.
Se a moça tivesse olhado a seu redor veria que todos pegavam seu par de meias e guardavam na mochila com grande carinho e emoção. Aqui terminava a tradição e começava a lenda. Uma pena que não tenha observado.
Neste dia, era tradição dos carvalhenses, se dirigirem a cidades próximas em pequenos grupos, para se confraternizarem. A nossa moça estava em um destes grupos. Iriam a uma cidade que distava uns quinze quilômetros. Esta caminhada era também uma oportunidade de se confraternizarem com a natureza e fazerem um bom encontro filosófico.
No meio do caminho a temperatura caiu ainda mais rapidamente. Uma nevasca surgiu do nada. Todos tiraram rapidamente suas meias presenteadas e as calçaram. Olharam para moça e perguntaram pela sua meia. Disfarçou e falou que talvez tivesse perdido. Alguém tinha uma meia do Natal passado e ofereceu. Com altivez recusou. Mais uma vez não percebeu o que se passava ao seu redor.
A borrasca foi forte. Uma caminhada que os carvalhenses faziam em três horas já se alongava por cinco horas. O perigo de hipotermia já se apresentavam, mas todos estavam bem exceto a moça de fora. Aí, algumas pessoas do grupo decidiram colocar as meias do Natal passado de um deles nos pés da moça mesmo sem seu consentimento.
Mas para surpresa de todos, não houve melhoria, a hipotermia tomava conta da moça de fora e suas extremidades começavam a congelar. Aquelas meias sempre trouxeram conforto aos carvalhenses. No calor, era um refrigério, no frio um sentimento caloroso.
Apressaram-se, correram e oraram. Chegaram. Uma vida foi salva.
Infelizmente não se perderam somente alguns anéis. Foram-se alguns dedos.
A moça de fora foi embora. Revoltou-se. E continuou a não observar o que estava em sua volta.
Uma pena. Questão de fé.
E a lenda continua.......
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