Todos falaram coisa maravilhosas que me emocionaram profundamente, até o menorzinho dizendo papaiiêê. Mas um deles registrou aquilo que falou e que de certa maneira resume também o que os outros falaram. Leiam:
Pai: Aquele que tem um ou mais filhos; Gerador; genitor;
progenitor;
Criador;
autor. Sendo autor, eis suas obras: Carolina, Rilden (Junior), Anna Carolina e
Rairon. Não tenhas dúvida, escreveste, conosco, nossa história.
Em Moçambique, significa distribuidor de
estupefacientes. Aquele que entorpece, estimula a subjetividade. Quem nos
estimula a sonhar.
Entre
tantos sonhos distintos, sociólogo, química e médica, a crença no outro no ato
de ensinar ou cuidar. Não fizemos do outro o inferno, fizemos o céu. O nosso
céu. Entre o bem e mal, estimulou-nos a tocar as nuvens mesmo que, para isso,
fosse necessário “bailar” com nossos demônios. Como sempre nos disse: “Pra ver
Deus é preciso morrer!”.
Quando tivemos a ideia de falarmos
um pouco sobre você, em sua festa, de pronto, faltaram palavras. Fiquei,
realmente, sem saber o que expressar. Ao mesmo tempo em que queria gritar ao
mundo que você, mais que genitor, era meu Criador de carne e osso, sem mistério
ou santidade, não sabia como fazê-lo.
Propus-me, então, o seguinte
exercício. De forma cronológica, perceber quais lembranças saltava-me a mente,
da infância até aqui. Talvez, esses quatro momentos me permitissem interpretar
o significado da palavra Rilden, em minha existência.
1) Tinha cinco, talvez seis anos.
Fui fazer xixi no mato, pisei em uma garrafa e cortei o calcanhar. Perdi a
força no pé e cai. Chorei muito alto (eu sou muito bom nisso!). Alguém
(realmente, não me lembro quem) pegou-me e entregou-me a ti. Levaste-me para
casa, no colo. Fizeste-te o curativo. Velaste, em sequência, meu sono. Tais
lembranças me pareciam tão vivas, que pude sentir a dor novamente. Tirei o
sapato e lá estava a cicatriz. Depois de vinte e cinco anos, esse momento
continua, literalmente, marcado em mim.
2) Eu tinha uns oito anos. Adorava
Ra-Tim-Bum. Tinha um quadro dentro do programa que o garotinho tentava
encontrar o Léo, seu leãozinho de pelúcia, que havia sumido. Lembro-me da
canção: “Cadê o Léo, Cadê o Léo, o Léo onde é que está?!” Quando escutava o
pino da garagem baixar, saia em disparada e voava pelas escadas para contar as
desventuras do garotinho na procura do Léo. “Pai, ele entrou dentro da máquina
de lavar pra procurar o Léo! Existe um mundo dentro da máquina!”. “Que legal! E
o que tem nesse mundo?!”. Com o uniforme cinza da CSN, por vezes sujo de graxa,
sempre mostrava entusiasmo com a “super” história do Léo.
3) Campeonato de juvenil de tênis.
Havia chegado invicto a final do campeonato o que, pelo regulamento,
permitia-me perder um jogo. Enfim, se perdesse o 1º jogo, tinha direito a uma
nova partida. E perdi a primeira. Estava, emocionalmente, descontrolado. Morria
de medo de perder, no fundo, não queria envergonhá-lo. Afastei-me de todo mundo
e quando dei por mim você já estava ao meu lado. Falamos de amenidades, e
quando fui chamado para voltar à quadra, você me disse algo sobre a importância
“para além de ganhar ou perder”, sobre dar o melhor que puder. A frustração não
reside na derrota, mas na desistência. Venci o jogo e o campeonato, mas o mais
importante foi não desistir e ter dado o meu melhor.
4) Batizado do Rairon. Após a
cerimônia, fizeste um churrasco. Logo no início da comemoração chamou-me,
juntamente com Carolzinha, para conversamos. Com a voz trêmula e os olhos
marejados, explicou porque nos escolheu, padrinho e madrinha, do pequenino.
“Quando eu faltar, não faltem. Passem o que somos para ele.”. Você acreditou em
nós. Acreditou em si. Acreditou em Deus. Um Albuquerque acredita no outro, um
Albuquerque nunca abandona outro Albuquerque.
Durante o exercício que me propus, me emocionei e
gargalhei sozinho. Depois olhei os momentos que a memória elencou para mim.
Não, não me veio minha formatura. Não me veio momentos de grandes escolhas.
Vierem-me momentos simples, em que percebi que estava do meu lado. São nesses
pequenos gestos que nos forjamos para as grandes “batalhas”. São esses momentos
que, absolutamente, ficam e ensinam. Quer saber o que aprendi?
Aprendi
que, quando me faltar às pernas, terei seus braços. Aprendi que sempre estará
disposto e entusiasmado para me ouvir. Aprendi que sua maior vitória foi nunca
ter desistido de si e dos seus. Aprendi a ter crença. Em mim e nos meus. Em
Deus.
Rilden:
Nosso autor; Nosso criador de carne e osso; Estimulador de sonhos. Aquele que
nos fez acreditar; Aquele que nos ouve; Aquele que nos ensina...
Aquele
que, simplesmente, nos ama. Nosso papaiiii!
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