quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ode de meus filhos

Não vai nenhuma vaidade nem orgulho mas achei maravilhosa a homenagem que meus filhos fizeram no meu aniversário. Eles são quatro; Carolina, a mais velha, Junior ( o mais velho ), Anna Carolina ( Carolzinha - a mais nova ) ; todos acima dos 20 anos e por fim, Rairon com 1 ano e 5 meses , o mais novo. Acredito que com esta pequena explicação aqueles que não conhecem minha família possam se situar no contexto.
Todos falaram coisa maravilhosas que me emocionaram profundamente, até o menorzinho dizendo papaiiêê. Mas um deles registrou aquilo que falou e que de certa maneira resume também o que os outros falaram. Leiam:

 Pai:  Aquele que tem um ou mais filhos; Gerador; genitor; progenitor;
Criador; autor. Sendo autor, eis suas obras: Carolina, Rilden (Junior), Anna Carolina e Rairon. Não tenhas dúvida, escreveste, conosco, nossa história.

Em Moçambique, significa distribuidor de estupefacientes. Aquele que entorpece, estimula a subjetividade. Quem nos estimula a sonhar.
Entre tantos sonhos distintos, sociólogo, química e médica, a crença no outro no ato de ensinar ou cuidar. Não fizemos do outro o inferno, fizemos o céu. O nosso céu. Entre o bem e mal, estimulou-nos a tocar as nuvens mesmo que, para isso, fosse necessário “bailar” com nossos demônios. Como sempre nos disse: “Pra ver Deus é preciso morrer!”.

            Quando tivemos a ideia de falarmos um pouco sobre você, em sua festa, de pronto, faltaram palavras. Fiquei, realmente, sem saber o que expressar. Ao mesmo tempo em que queria gritar ao mundo que você, mais que genitor, era meu Criador de carne e osso, sem mistério ou santidade, não sabia como fazê-lo.

            Propus-me, então, o seguinte exercício. De forma cronológica, perceber quais lembranças saltava-me a mente, da infância até aqui. Talvez, esses quatro momentos me permitissem interpretar o significado da palavra Rilden, em minha existência.

1)      Tinha cinco, talvez seis anos. Fui fazer xixi no mato, pisei em uma garrafa e cortei o calcanhar. Perdi a força no pé e cai. Chorei muito alto (eu sou muito bom nisso!). Alguém (realmente, não me lembro quem) pegou-me e entregou-me a ti. Levaste-me para casa, no colo. Fizeste-te o curativo. Velaste, em sequência, meu sono. Tais lembranças me pareciam tão vivas, que pude sentir a dor novamente. Tirei o sapato e lá estava a cicatriz. Depois de vinte e cinco anos, esse momento continua, literalmente, marcado em mim.

2)      Eu tinha uns oito anos. Adorava Ra-Tim-Bum. Tinha um quadro dentro do programa que o garotinho tentava encontrar o Léo, seu leãozinho de pelúcia, que havia sumido. Lembro-me da canção: “Cadê o Léo, Cadê o Léo, o Léo onde é que está?!” Quando escutava o pino da garagem baixar, saia em disparada e voava pelas escadas para contar as desventuras do garotinho na procura do Léo. “Pai, ele entrou dentro da máquina de lavar pra procurar o Léo! Existe um mundo dentro da máquina!”. “Que legal! E o que tem nesse mundo?!”. Com o uniforme cinza da CSN, por vezes sujo de graxa, sempre mostrava entusiasmo com a “super” história do Léo.

3)      Campeonato de juvenil de tênis. Havia chegado invicto a final do campeonato o que, pelo regulamento, permitia-me perder um jogo. Enfim, se perdesse o 1º jogo, tinha direito a uma nova partida. E perdi a primeira. Estava, emocionalmente, descontrolado. Morria de medo de perder, no fundo, não queria envergonhá-lo. Afastei-me de todo mundo e quando dei por mim você já estava ao meu lado. Falamos de amenidades, e quando fui chamado para voltar à quadra, você me disse algo sobre a importância “para além de ganhar ou perder”, sobre dar o melhor que puder. A frustração não reside na derrota, mas na desistência. Venci o jogo e o campeonato, mas o mais importante foi não desistir e ter dado o meu melhor.

4)      Batizado do Rairon. Após a cerimônia, fizeste um churrasco. Logo no início da comemoração chamou-me, juntamente com Carolzinha, para conversamos. Com a voz trêmula e os olhos marejados, explicou porque nos escolheu, padrinho e madrinha, do pequenino. “Quando eu faltar, não faltem. Passem o que somos para ele.”. Você acreditou em nós. Acreditou em si. Acreditou em Deus. Um Albuquerque acredita no outro, um Albuquerque nunca abandona outro Albuquerque.

Durante o exercício que me propus, me emocionei e gargalhei sozinho. Depois olhei os momentos que a memória elencou para mim. Não, não me veio minha formatura. Não me veio momentos de grandes escolhas. Vierem-me momentos simples, em que percebi que estava do meu lado. São nesses pequenos gestos que nos forjamos para as grandes “batalhas”. São esses momentos que, absolutamente, ficam e ensinam. Quer saber o que aprendi?
Aprendi que, quando me faltar às pernas, terei seus braços. Aprendi que sempre estará disposto e entusiasmado para me ouvir. Aprendi que sua maior vitória foi nunca ter desistido de si e dos seus. Aprendi a ter crença. Em mim e nos meus. Em Deus.

Rilden: Nosso autor; Nosso criador de carne e osso; Estimulador de sonhos. Aquele que nos fez acreditar; Aquele que nos ouve; Aquele que nos ensina...

Aquele que, simplesmente, nos ama. Nosso papaiiii! 

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